Já pararam para pensar sobre a importância dos indicadores nos negócios? Sobre a importância dos indicadores na tomada de decisão em instituições públicas ou privadas?
Os indicadores têm relevância em escala local, regional, nacional e mundial. E isso em todas os campos do conhecimento.
O que os indicadores informam? Qual a lógica que norteia a construção de indicadores? É o nosso assunto nesse texto.
A demanda por informação que esteja em capacidade de análise, avaliação, comparação e tomada de decisão é crescente. Não basta ter apenas os números, é necessário que eles apresentem sentido para formação do conhecimento.
Para formular, monitorar e avaliar políticas públicas é muito importante ter as informações bem dimensionadas para uma correta tomada de decisão. E não apenas isso, é importante ser capaz de compreender uma dada realidade e saber como ela está evoluindo ao longo do tempo. Para isso se faz necessário que estes contextos sob análise estejam bem representados, como se fosse uma “fotografia”na melhor definição que se consiga obter.
Estas representações quantificáveis vão buscar dar identidade ao conceito que o indicador quer expressar. Por exemplo: o conceito de saúde, ou de educação, ou nutrição.
É possível constatar que uma única variável não responde, conceitualmente, o que se deseja mensurar ou avaliar. É aí que surgem os indicadores.
Os indicadores são representações quantificáveis das características de produtos e processos, sendo assim utilizados para a melhoria da qualidade e desempenho de um produto, serviço ou processo, no tempo.
(Takashina (1999))
Ao criar um indicador também é importante que ele tenha uma meta, ou seja, que exista um valor desejado a ser obtido por este indicador. Deste modo é possível avaliar a situação no momento presente e poder planejar ações para mudanças destes indicadores para um determinado momento no futuro. O indicador precisa ser útil para a tomada de decisão. Um bom indicador oferece parâmetros que dimensionam contextos complexos.
No Guia Referencial para análise e construção de indicadores, ENAP, 2021, disponível no Guia Referencial, temos os seguintes atributos dos indicadores:
Utilidade Comunicar com clareza a intenção do objetivo, sendo útil para a tomada de decisão dos gestores.
Validade – Representatividade Representar com fidelidade e destaque o que se deseja medir.
Confiabilidade metodológica Ter métodos de coleta e processamento do indicador confiáveis.
Disponibilidade Ser possível a coleta dos dados para o cálculo com facilidade e rapidez.
Confiabilidade das fontes Ter fonte de dados com precisão e exatidão.
Economicidade Ter uma relação de custo benefício favorável.
Simplicidade de comunicação Favorecer o fácil entendimento por todo o público interessado.
Estabilidade Ter mínima interferência de variáveis externas ou possíveis adversidades.
Tempestividade Ser possível a sua utilização assim que o gestor precisar.
Sensibilidade Ter baixos riscos relacionados ao indicador.
Agora vamos mostrar um exemplo de construção de índices. Existem inúmeras possibilidades e métodos. Aqui vamos montar um índice com dois indicadores para poder apresentas a metodologia que está envolvida na construção de um índice a partir de indicadores.
O contexto, O problema
Existe e está tipificada a violência de gênero. Ou seja, uma violência que ocorre de modo específico pelo fato da pessoa ser mulher. Esta violência ocorre em dimensão psicológica e em agressões verbais. Neste estágio não é possível haver uma caracterização sistematizada e/ou documental.
Quando as agressões passam a ser físicas ou, ainda pior, se agravam para tentativa e consumação de homicídio, as Secretarias de Estado de Segurança Publica possuem dados que reportam as ocorrências.
Diagnóstico
Com a pandemia pesquisas apontam um aumento da violência contra mulheres e noticiadas:
1) Violência contra mulheres cresce em 20% das cidades durante a pandemia
2) Violência contra as mulheres dispara em todo mundo com a pandemia
3) Brasil teve 105 mil denúncias de violência contra mulher em 2020; pandemia é fator, diz Damares
Um aspecto dos indicadores que reduz a variabilidade das variáveis e dos indicadores é a padronização.
Com a padronização é possível também fazer a comparação entre o indicador em diferentes contextos
O objetivo do indicador aqui é ser um controle para o nível de violência gênero e dar uma nota em uma escala de 0 a 10.
Os dados são disponibilizados mensalmente o que permite um monitoramento continuado da violência de gênero no município.
Uma vez que os dados são disponibilizados desagregados por município, é possível decompor a avaliação por macro regiões, ou ainda, formar grupos por faixas de tamanho populacional do município. Também é possível avaliar cada município individualmente e sua evolução ao longo dos meses e dos anos.
Seleção de Indicadores
São selecionados dois indicadores:
1) Tabela de feminicídios em Minas Gerais. A planilha contempla tanto as tentativas como também os homicídios efetivamente consumados.
2) Tabela com as violências domésticas e familiares cuja denúncia foi registrada nos órgãos de segurança pública.
Para ter um parâmetro para os indicadores foi também realizada consulta a tabela de total de homicídios no estado de Minas Gerais que também contempla a projeção do IBGE para a população do Estado e dos Municípios.
Assim que o primeiro indicador é referente ao total de feminicídios consumados sobre o total global de homicídios.
O segundo indicador é referente à taxa de violência doméstica por dez mil habitantes.
Fórmulas para Cálculo dos Indicadores
A taxa de feminicídio consumado é a razão entre o número de feminicídios consumados sobre o total de homicídios e é multiplicado por 100 para ter o valor percentual.
A taxa de violência doméstica é obtida fazendo a razão entre os registros de violência e o total populacional estimado pelo IBGE e multiplicando por 10.000.
A meta é calculada utilizando-se a fórmula estatística do decil, sendo que, considerando que dados com relação à violência têm polaridade “menor-melhor” o conceito da meta de melhoria é a nota em que noventa por cento dos municípios estão acima. Desta forma os 10% dos municípios com a menor nota em termos de violência de gênero passam a ser a referência para os demais.
Um exemplo de aplicação deste critério:
É o mesmo que o aplicado para a avaliação do do Índica de Governança dos Municípios – IGM desenvolvido pelo Conselho Federal de Administração (CFA)
A título de exemplo vamos estabelecer que o pior valor para a taxa de feminicídio seja 10 e que o pior valor possível para a taxa de violência doméstica seja 40. Evidentemente a meta a ser atingida é zero para ambos os casos.
Temos então que a Nota relativa ao feminicídio será dada por:
A nota relativa para a violência doméstica será dada por:
A nota final se torna a média aritmética simples entre as duas notas.
Isto se torna possível pois as duas notas estão tiradas em termos relativos a seus próprios parâmetros.
Fonte dos dados
Para efeito deste trabalho foi analisado o Estado de Minas Gerais através das informações disponibilizadas pela Secretaria Estadual de Segurança Pública do Estado de Minas Gerais em sua página de Dados Abertos
Dados de criminalidade dos 853 municípios de Minas Gerais tendo como fonte o Observatório de Segurança Pública/Sejusp estão disponibilizados no formato Excel e são atualizados mensalmente.
É importante destacar que os dados de agressões advindas de violência doméstica e familiar são sub reportados. Lamentavelmente muitas mulheres têm medo de relatar ou são coagidas a se calar frente ao agressor.
Cálculos pertinentes
Abaixo segue a tabela com os cálculos com a seguinte observação: os dados referentes a 2021 estão atualizados até julho. desta forma o valor apresentado na nota final não reflete o consolidado do ano.
A nota relativa ao feminicídio se mostra baixa. Isso aponta e coincide com o aumento da violência contra a mulher.
Os valores relativos a 2021 são parciais pois têm os dados até julho 2021.
No caso os valores em análise são anuais. Todavia é possível desagregar os dados em relação aos municípios, também em relação à macro regiões. Uma vez que é dado o valor da população também é possível agrupar os município.
Os indicadores são confiáveis na medida em que são advindo de sites governamentais. Ainda que os dados da efetiva e real dimensão da violência cometida contra mulheres sejam sub-notificados.
Uma vez que a nota é uma medida relativa, os índices têm a dimensão que cria uma escala que vai do pior cenário até a meta cobrindo de 0 a 10.
A maior limitação ocorrida nos indicadores deve-se a saber com que fidedignidade são reportadas as informações.
A meta, neste caso, será zerar os índices de feminicídio e de violência doméstica. O índice é construído de tal forma que quanto menor for o valor dos crimes e das violências maior será a nota.
Os responsáveis pelos dados vêm do IBGE (projeção populacional) e depois do Observatório da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Minas Gerais.
Escrito por Denise Alves
